quinta-feira, setembro 08, 2005

Há uma rapariga deitada no meu quarto

Há uma rapariga deitada no meu quarto
Disse-me que não se demorava e eu deixei-a entrar por momentos
Mas agora recusa-se a ir embora
“Não tomarei muito do teu tempo. Apenas o necessário para conhecer o cheiro, o toque, o sabor e o rumo que segue a tua vida”, disse ela
E arrancou os botões de todas as minhas camisas, apenas para poder sentir a minha pele
E vasculhou as minhas gavetas em busca do amor e de um cigarro
Estavam vazias, mas ela pareceu não se importar
Diante dos meus olhos fez correr um rio entre as nossas bocas
Na minha cabeça plantou sonhos de algodão
E no tapete as roupas usadas que deixaram de servir
Agora que as unhas estão cravadas nas minhas costas não sabe como atravessar as ruas
“Perdi o rumo, a bússola e todos os motivos para o fazer”, disse ela
Lá fora apenas os lobos famintos e o fumo de um charro esperam por ela
As barbas mal cortadas e os olhares rubros da luxúria
Uma cadeira de baloiço quebrada e uns óculos escuros para fingir que não os vê
Um riff de uma guitarra desafinada e o nariz empinado para despistar as dúvidas
“Não é um futuro muito bonito, pois não...?”, questionou
...
“Deixa-me repousar durante mais uns minutos no teu peito. Só até deixar de precisar de ti”
...
“Não te assustes, mas já passaram vários dias...”, respondi