terça-feira, julho 19, 2005

Tempo



Enquanto os dedos queimam e os olhos ameaçam ceder à sofreguidão de um dia sem passado, sinto no rosto a brisa seca de Verão que não vi chegar e escuto de novo a velha canção de mil vozes caladas. Sento-me calmamente num dos muitos lugares congelados pelo troar das máquinas, aspiro, sem me aperceber, a convulsão do silêncio e sinto-me perecer entre o agora e o depois, como se nós dois conversássemos num dos muitos momentos em que nada dissemos.

O tempo que perdemos partiu num dos inúmeros túneis que a imaginação constrói para não justificar o sentimento arrependido. É vão, é cego, é orgulhoso e assumido. É um tempo lesto, agreste, de muitas faces, breves, sumidas. Troco uma ou duas palavras de circunstância sem esperar resposta, enquanto os raios de sol abandonam sem se despedir a palidez sincera da minha pele. O tempo parte célere rumo ao horizonte, ao desconhecido onde mais uma vez o tento alcançar. Mas ele está longe, distante. Perdi-o. Não posso. Não consigo.

Uma canção escutada à pressa, sem tempo. Um poema escrito no tempo, maltratado e esquecido. Uma voz calada pelo tempo, porque o tempo é vago, sem condição ou sentido.

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