sexta-feira, junho 10, 2005

Foge de mim

Não estou no meu estado normal. Eu não sou eu. Há muito que a sanidade mental me deixou. Vivo agora num sonho agitado. Afogado em olhares dispersos e rumores distantes da multidão que me sufoca. Sinto a distância. Sinto o peso da consciência. Amar é o meu crime. E as paredes da minha cela fecham-se sobre mim a cada minuto que passa. Sou perigoso. Distante. Inconsciente.

Eu sou a estrada sem fim. Sou a estrela que foge da lua. O negro anjo caído em desgraça. O lobo que rasga a escuridão e a liberdade que nunca chegou a ser tua. Sou o mar rebelde em noites de tempestade. Sou o céu cinzento em dias de nevoeiro. A guitarra que chora por um amor descontente. O vento frio que sopra por entre ondas de melancolia e o cão demente, raivoso e traiçoeiro.

Observo o espelho que colocaram defronte da minha face. Procuro nele a razão para não ser quem sou. Inconformado. Liberto. Caótico. Não me encontro. Não me revejo em mim próprio. Não me conheço. Perdi-me há muito numa ideia incerta de alguém que já não chora. Enquanto a minha sombra corre em direcção a um mar de navios naufragados, destruídos, divorciados de qualquer redenção.

Por isso corre agora! Vai para bem longe de mim. Foge desta insensível imagem que construí para mim. Procura refúgio nos braços de um anjo sereno e imortal. Que te ofereça abrigo. Que te faça sonhar. E chorar. Por ele. De alegria. De felicidade. Procura o céu azul. O paraíso. O jardim do Éden. Onde possas ser feliz. Onde possas ser tu própria. Onde o medo e a tristeza não te encontrem.

Foge deste anjo caído. Foge da verdade que não te contei. Foge da realidade em que me deixei cair um dia. Liberta-te de um sentimento que nunca chegou a aprisionar-te. Deixa-me sonhar com o beijo que não cheguei a oferecer-te. Com o céu azul em que sonhava cobrir-te. E diz-me que és feliz. Tão feliz. Sem mim...