Sempre o olhar, nunca a palavra
Olha para o céu apenas por um segundo antes do teu último suspiro. Lembra-te que será a última oportunidade que terás para o fazer. Porque há coisas invisíveis a olho nu. Que só valem a pena quando não são olhadas directamente. E que resistem a qualquer suspiro mais afoito que chega sem saber de onde vem e parte sem saber para onde vai.
Eu já fui um homem do espaço. Já fui uma velha estrela de rock viciada em crack e heroína. E um palhaço sem nariz rubro, rindo da própria tristeza e deixando uma lágrima feroz levar para sempre a palidez da minha condição. E tu por onde andavas? Em que estradas lançavas o pó que adormecia as crianças? Que mentiras espalhavas ao vento e quantas pétalas de rosa lançavas a teus pés?
Quando te tornaste tão subserviente? Quando deixaste de ver a vida através dos teus próprios olhos? Que coleira é essa que ostentas com orgulho? Gostas de ver o mundo a meio corpo? Ou as forças abandonaram-te tão cedo e a tua voz recusa-se a questionar a legitimidade da loucura que testemunhas? A culpa não é tua. As opções que tomas guiarão para sempre o rumo que segue a tua vida. As conversas paralelas serão sempre meros adereços e os sentimentos surgirão da neblina matinal como promessas de salvação eterna, embora partindo tão céleres quanto a luz do sol, deixando a saudade própria que nasce do brilho das velas.
Não te pedi que me olhasses. O meu corpo não merecia a tua contemplação. Não pedi que me amasses. E as palavras doces deixaram de habitar o meu coração. O coração forjado de um metal duro e frio que o impede de bater. O ouro que agora derrete tristemente plantado em minha mão. Não te quero. Deixei de ser um porto de passagem para um qualquer pirata de olhos doces e humores de Inverno. Não te espero. Da água que corre em cada pranto faço a minha força e dos séculos que passam a certeza que uma andorinha não faz a Primavera nem uma noite o amor eterno.
2 Comments:
as andorinhas vão partir hoje...
aleushazinha*
e com elas a primavera... e a gripe das aves :)
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