terça-feira, junho 14, 2005

Eterna liberdade



Não ouço a tua voz. Não compreendo o que diz. Sou um estranho em terra estranha. Desterrado pela pátria que não me reconhece. Não compreendo porque brilham as estrelas. Não conheço a língua dos pássaros. Não sei o que faço. Não sei porque minto. Fui eu que nasci em quente tarde de Outono? Ou apenas um sonho fugaz de quem não sabe porque sonha?

Não aceito o meu caminho. Não aceito o perfume da rosa que me é oferecida. Nunca aprendi a amar a sua doçura nem ela alguma vez mo pediu. Pertenço a um mundo diferente. Um mundo onde as rosas não florescem. Um mundo onde as estrelas se recusam a brilhar. Um mundo onde os barcos naufragam. Um mundo ao qual não quero regressar.

Não ouço o bater do coração. Um coração sem voz, rendido às evidências de um futuro perdido. Os mil pedaços em que se quebrou não sentem nada mais que a suave melodia que ecoa do silêncio. O silêncio que me aprisiona, tortura, deforma. E me diz que os olhos que tanto amo um dia deixarão de me seguir.

Atrevo-me a falhar. A sugar cada minuto que se escoa por entre as malhas do tempo. Um tempo onde te encontrei perdida. Um tempo onde os lobos se esqueceram de uivar. Um tempo onde um dia fui menino criando hinos ao amor e à vida. Um tempo em que pensei que o futuro nunca deixaria de me amar.

E agora que os anjos partiram? E agora que a terra reclama os seus filhos? E agora que o fogo crepita num espiral de amores perdidos? E agora que a hipocrisia me cerca, me fustiga e me faz recordar tempos que julgava esquecidos? E agora que nenhuma recordação se mostra capaz de tomar o teu lugar?

Agora deixo a luz acesa para que possas encontrar o caminho de volta. Agora espero o momento em que todas as cores te sejam estranhas. Agora conto todos os lentos segundos até que o relógio indique a hora de te poder abraçar novamente. Agora todos os fantasmas descansam. Agora a saudade é apenas uma palavra entre outras que ninguém entende.

Eu sou o rosto por detrás da lágrima. Sou o tempo ébrio que morre devagar. Sou a sombra atrevida que foge da luz. Sou a lembrança eterna de um qualquer sorriso milenar. Eu sou a ponte que liga as margens do rio saudade. Sou o sol nascido em fria manhã de Inverno. Sou a noite caída em tempo de guerra.E o anjo arrependido preso entre o céu e o inferno.


Posted by Hello