Fim do mito - Início da lenda
Num abraço a dois tempos um compasso de cores. Em minúsculos pedaços de uma madeira estemporaneamente quebrada três cordas vibram ao sabor do vento, dando à luz um som que ecoa por entre as planícies, atravessando vales, mares e montanhas. Consciências, memórias, lugares comuns e inuendos. Uma melodia que acorre aos locais mais profundos de cada alma inquieta, conquistando preces e bandeiras
No casco triunfante de um cavalo ouvem-se os passos cravados a ferro e carvão de um tempo que tarda em alcançar o seu destino. A duas mãos que se unem sem causa ou motivo junta-se o ritmo das palmas brancas cruzadas que aplaudem o último suspiro de um homem. Um inesperado confronto a cinco vozes irrompe pela sala rubra atraindo todos os olhares da plateia incrédula. Mas olhares pintados por uma noite de um verde sereno vivem em silêncio, desejando apenas que a chuva se torne o manto que cobrirá as suas lágrimas
Naquela manhã o mar vestiu-se de branco para celebrar as vidas que desabrochavam a cada suspiro de um novo dia. Mas o manto negro da noite levou para sempre as conversas perdidas e todas as palavras se viram encarceradas em leves bolas de sabão
Pode um homem criar raízes em tempos modernos? Será a razão dos sentidos demasiado lata para que possa ser revelada por um simples fogo de vista?
Agora que seguiste o teu caminho rumo à fria contemplação das memórias assustadas, mil e uma vozes surdas se aprontam para calar a inspiração da tua presença. Mas tu és a fonte da juventude num corpo cansado. Tu és o deus sem voz e a cruz que ousou desafiar a guilhotina do tempo. Tu és a certeza que até os imortais têm um lugar próprio no paraíso
As vidas sem cor, gastas pela luz do sol, seguem o orgulho do seu tempo. Rezemos, então, ao deus das coisas menores, numa oração repetida vezes sem conta para a preservação de todos os defeitos e fraquezas. Entretanto, insistimos em construir castelos de palavras vãs e sem sentido. Mas as palavras desmoronam-se sempre entre aspas
Descansa em paz Imortal...