quinta-feira, julho 28, 2005

A chama que se apaga...


Agora que a noite lançou sobre mim o seu manto de incertezas sou levado até parte incerta pelo próprio destino. Questiono a minha moral, a minha vontade, mas o meu corpo parece já conhecer o caminho. É inútil resistir. Não ouso. Não consigo. Deixo-me guiar. E por triste acaso ou simples intervenção do tempo sou forçado a sonhar.

É o sonho de um silêncio repentino, caído ao ritmo da noite
É o sonho que espera que a manhã chegue e que o vento se agite
É o sonho de vidas passadas sem sentido ou emoção
É o sonho que não há muito tempo me fez tropeçar em pedras de algodão

É o sonho ébrio da incerteza dos sentidos
É o sonho de todas as dúvidas e de todos os momentos esquecidos
É o sonho de um cachorrinho que já não corre por já não encontrar motivos para o fazer
É o sonho das almas de pedra, que atraem, seduzem, e deixam marcas sem querer

É o sonho de todas as noites em que me esqueci de sonhar
É o sonho de um barco que partiu com a certeza de naufragar
É o sonho de uma vida sem futuro, procurando esquecer o passado
É o sonho que sonhei acordado quando as palavras, os gestos e os olhares pareciam ter algum significado

É o sonho de um anjo que um dia te levará
É o sonho do que não foi e daquilo que nunca será
É o sonho de todos os corações que por ti batem
É o sonho da consciência desperta, a certeza que ao amanhecer todos os sonhos partem

É o sonho de quem não sente, de quem não ama
É o sonho de uma menina que um dia se fez luz e chama
É o sonho da matemática dos sentimentos
É o sonho que traz de volta todas as recordações, mas nenhum dos momentos

É o sonho dos olhares cerrados
É o sonho dos olhos doces que nunca deixaram de ser amados

É o sonho das palavras escritas em vão, porque as palavras serão gelo e a presença será fogo

A chama do amor deixou de brilhar no mesmo instante em que o vento da indiferença soprou mais forte...

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quarta-feira, julho 27, 2005

No fun...



You can drive the car - I'll play my old guitar

We can get some beer - let's get outta here
We'll find a place to go - no one will ever know
Somewhere that's outta town
Put a blanket on the ground, baby
And we can really go crazy

Babe it ain't a party if you can't come 'round
Can't even get started if you don't come down
Even Saturday ain't a holiday if you stay away
It ain't a party if you can't come 'round

Slip into somethin' tight - we'll slip into the night
We'll see the sun go down and maybe fool around
We can start a fire - maybe get a little higher
Don't worry what to bring, cause we got everything, baby
And we can really go crazy

Babe it ain't a party if you can't come 'round
Can't even get started if you don't come down
Even Saturday ain't a holiday if you stay away
It ain't a party if you can't come 'round

("It ain't a party(if you can't come 'round)" /Adams)

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sábado, julho 23, 2005

Serenade



Eu gosto de pensar que o tempo passa por alguma razão. Que não corre sempre no mesmo sentido sem um pretexto ou um objectivo. Gosto de saber que as gaivotas voam sobre o mar apenas porque o podem fazer. E que as ondas que passam não tardam muito em voltar. E voltam sempre ao ponto de partida antes que os sonhos sejam forçados a desaparecer. Eu gosto de pensar que as palavras são ditas como simples forma de nada dizer. E que nada é dito sem intenção. Ou com intenção de fazer sofrer.

Gosto de pérolas invisíveis que ainda descansam no fundo do mar. Gosto de feras feridas que recusam a jaula e de poetas perdidos que não se deixam alcançar. Gosto das histórias antigas contadas por decanos sob o brilho do luar. Gosto do manto quente da noite que me cobre e do conceito esquecido da palavra “amar”. Amo porque respiro. Amo porque preciso. Amo para não ter que pensar. Porque se porventura pensasse, por certo deixaria de amar.

Preciso de uma razão para fechar os olhos. Preciso de um motivo para me deixar levar. Preciso de uma ferida que arda e não sare. Preciso de uma desculpa para deixar de amar.

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sexta-feira, julho 22, 2005

IlIusions



Sometimes, when you're standing in the dark, the things you see aren't real
And those you feel aren't either...

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terça-feira, julho 19, 2005

Certezas



Certezas? Que não te conheço. Que não te mereço. Que as minhas palavras se perdem encobertas por uma nuvem de pó. Que um beijo é promessa incerta de quem pretende estar só. Que as dúvidas são mortais inimigas da felicidade. Que as vidas se separam um dia, como hoje, e que perdidas no tempo não deixaram saudade. Que o teu olhar é marca vincada em almas de pedra. Que o teu coração procura abrigo longe da incerteza e da inveja.

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Tempo



Enquanto os dedos queimam e os olhos ameaçam ceder à sofreguidão de um dia sem passado, sinto no rosto a brisa seca de Verão que não vi chegar e escuto de novo a velha canção de mil vozes caladas. Sento-me calmamente num dos muitos lugares congelados pelo troar das máquinas, aspiro, sem me aperceber, a convulsão do silêncio e sinto-me perecer entre o agora e o depois, como se nós dois conversássemos num dos muitos momentos em que nada dissemos.

O tempo que perdemos partiu num dos inúmeros túneis que a imaginação constrói para não justificar o sentimento arrependido. É vão, é cego, é orgulhoso e assumido. É um tempo lesto, agreste, de muitas faces, breves, sumidas. Troco uma ou duas palavras de circunstância sem esperar resposta, enquanto os raios de sol abandonam sem se despedir a palidez sincera da minha pele. O tempo parte célere rumo ao horizonte, ao desconhecido onde mais uma vez o tento alcançar. Mas ele está longe, distante. Perdi-o. Não posso. Não consigo.

Uma canção escutada à pressa, sem tempo. Um poema escrito no tempo, maltratado e esquecido. Uma voz calada pelo tempo, porque o tempo é vago, sem condição ou sentido.

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O sentido da dúvida



A cidade dos perdidos fervilha de emoção e movimento nestes loucos dias de celebração. Os velhos correm de um lado para o outro atarefados com os últimos preparativos, as mulheres agitam-se num frenesim desgarrado como se o amanhã fosse apenas um sonho distante, ameaçando nunca chegar. A notícia espalhada, tão célere como o próprio vento, tomou em menos de nada a perversa forma de furacão. O novo imperador aproxima-se. Tudo deve estar perfeito ao primeiro, segundo e terceiro olhares. Nada deve ser deixado ao acaso. Sua majestade não o consentiria.

Ao longe ouve-se agora o trovão que agita as nossas frágeis fundações, sacudindo tudo à sua passagem, vergando deuses, semi-deuses e seres menores num espectáculo deprimente de veneração expontânea sem mestre sentido ou aparente sério prazer. Eis que entra em cena no alto de todo o seu esplendor sua real esperança, mestre dos sentidos inertes, senhor das histórias de amor esquecidas. Apolo de mulheres feridas. Afrodite dos homens dementes. Seus olhos alcançam o desejo mais recôndito. Seu pensamento vagueia sobre o deserto mais agreste.

Um machado que quebre o gelo. É apenas o que peço aos rostos fechados da multidão que observam a parada de movimentos mecânicos, ensaiada vezes e vezes sem conta. Cada passo, cada gesto, cada olhar, um sentido único gravado como ferida aberta na mente de cada falso crente. E a distância que os separa, uma nova aliança celebrada com o sangue dos infantes perdidos em rio de prata. Um livro aberto ao velho futuro há muito prometido, escrito em linhas invisíveis por mãos trémulas, dormentes. As crianças de hoje são agora cobertas pelo antigo pó lunar, adormecendo-as, levando-as para longe num sono profundo, distante, de que só a sombra de uma imitação de felicidade as poderá despertar. Mas a certeza encontra-se ausente, há muito esquecida numa memória sepultada num qualquer canto do mar.

A dúvida é a última fronteira que nos separa do agora e do depois. Depois do vento se cansar. Depois do mar arrepiar caminho. Depois da terra esquecer os seus filhos perdidos. Depois de um novo começo em que o relógio marcará apenas os batimentos do coração. E nesse momento nem ditadores, reis ou imperadores nos poderão impedir de livres percorrermos planícies, montanhas e vales. Procurando o fruto proibido que saciará a nossa fome de vida e liberdade. Enfim revelada. Enfim conquistada. E a dúvida transformada em conto de fada. Vilã de uma geração de filhos de um deus menor.

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domingo, julho 10, 2005

Campos dourados...

Estou tão cansado... Nem escrever consigo... Mas tenho uma imagem na minha mente. Um dos paraísos que vislumbro de cada vez que fecho os olhos.



You'll remember me when the west wind moves
Upon the fields of barley
You'll forget the sun in his jealous sky
As we walk in the fields of gold

So she took her love
For to gaze awhile
Upon the fields of barley
In his arms she felt as her hair came down
Among the fields of gold

Will you stay with me, will you be my love
Among the fields of barley
We'll forget the sun in his jealous sky
As we lie in the fields of gold

See the west wind move like a lover so
Upon the fields of barley
Feel her body rise when you kiss her mouth
Among the fields of gold
I never made promises lightly
And there have been some that I've broken
But I swear in the days still left
We'll walk in the fields of gold

Many years have passed since those summer days
Among the fields of barley
See the children run as the sun goes down
Among the fields of gold
You'll remember me when the west wind moves
Upon the fields of barley
You can tell the sun in his jealous sky
When we walked in the fields of gold

("Fields of Gold" - Sting)

Uma das músicas mais bonitas que já ouvi... Sting. E está justificado ;)

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terça-feira, julho 05, 2005

Love



Ser irracional é amar sem saber porque se ama...

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domingo, julho 03, 2005

Let's make poverty history - www.live8live.com



Just look at all those hungry mouths we have to feed
Take a look at all the suffering we breed
So many lonely faces scattered all around
Searching for what they need

Is this the world we created?
What did we do it for?
Is this the world we invaded
Against the law?
So it seems in the end
Is this what we’re all living for today?
The world that we created

You know that every day a helpless child is born
Who needs some loving care inside a happy home
Somewhere a wealthy man is sitting on his throne
Waiting for life to go by

Is this the world we created?
We made it on our own
Is this the world we devastated
Right to the bone?
If there’s a God in the sky looking down
What can he think of what we’ve done
To the world that he created?

("Is this the world we created?" - Mercury/May)

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sábado, julho 02, 2005

Sweet times that were never meant to be

Mais de um tempo passado que recordo mais de mil tempos por dia. Mais de uma vida recheada de emoções, salpicada por relâmpagos de uma lucidez encenada em todos passos de alguém que só sabe viver entre poemas e canções. Mais da saudade saída de um filme passado numa sala vazia onde as vozes se confundiram sem querer e onde os olhares se cruzaram e se desviaram perdidos num mundo que não existia sequer.

Mais ou menos tudo. Mais um grão de areia que se perde para sempre, rendido ao poder tirânico do irmão vento. Mais uma lágrima que a pele não sente por ser descrente do talento do coração. Mas ele não dá ouvidos aos apelos do corpo. Porque ele é livre para ser quem é, para voar ao sabor da imaginação, para lutar pelo ideal romântico que há muito se perdeu por entre os ponteiros do relógio. Ele aprendeu a amar com as sereias que habitam as masmorras. Ele aprendeu cantar com os deuses de outrora. Ele é apenas o que é. E nada mais pretende ser. Ele sabe bem quem é. Como sorrir, sentir e um dia perecer.

Mais ou menos nada. Mais de uma praça secular, vazia, abandonada, ainda apegada aos rigores do Inverno, onde ele, sereno, vagueia acompanhado pelo inexplicável orgulho de estar só. Mais de um mar rebelde povoado de sentimentos perdidos, afogados, para sempre banidos de um reino sem rainha. Mais de uma dor que não teve tempo para sentir porque os tempos que ainda estão para vir serão de entrega e agitação feroz, roubando datas e espaços, quebrando sentidos e laços, e apagando a lembrança de alguém que escolheu ser ausente perante nós.

Mas então porque não sofre o coração? Porque toma ele orgulhoso a estrada sem nunca, em momento algum, olhar para trás? Que barreiras, que muralhas, que defesas ergue ele em redor da sua devoção? Será um guerreiro astuto fazendo de tudo para não se deixar vergar? Ou apenas um amante breve e sincero, um poeta com demasiadas linhas escritas para que algo tão fugaz o consiga levar?

Porque a vida se faz presente. Porque lá bem alto um dia se erguerá a sua voz. Porque as lágrimas não têm lugar na sua canção. Porque desde há muito tempo que Sile deixou de se mover entre nós. Porque as asas que agora nascem se erguem demasiado alto perante os olhares turvados pela neblina matinal. Porque a sede de vida é maior que qualquer amor fugaz, passageiro, levado pela serenidade de um rio que corre ligeiro, sem recordação ou saudade do odor salgado do mar.

Porque ele conhece todos os caminhos a percorrer. Porque ele viu a luz que a noite insiste ainda em esconder. Porque a lua é sua aliada em todas as suas conquistas e batalhas. Porque a realidade reclama a sua presença e leva-lo-á para longe de cada canto para onde olhas.

(Tks por mais um motivo) ;)