A chama que se apaga...
Agora que a noite lançou sobre mim o seu manto de incertezas sou levado até parte incerta pelo próprio destino. Questiono a minha moral, a minha vontade, mas o meu corpo parece já conhecer o caminho. É inútil resistir. Não ouso. Não consigo. Deixo-me guiar. E por triste acaso ou simples intervenção do tempo sou forçado a sonhar.
É o sonho de um silêncio repentino, caído ao ritmo da noite
É o sonho que espera que a manhã chegue e que o vento se agite
É o sonho de vidas passadas sem sentido ou emoção
É o sonho que não há muito tempo me fez tropeçar em pedras de algodão
É o sonho ébrio da incerteza dos sentidos
É o sonho de todas as dúvidas e de todos os momentos esquecidos
É o sonho de um cachorrinho que já não corre por já não encontrar motivos para o fazer
É o sonho das almas de pedra, que atraem, seduzem, e deixam marcas sem querer
É o sonho de todas as noites em que me esqueci de sonhar
É o sonho de um barco que partiu com a certeza de naufragar
É o sonho de uma vida sem futuro, procurando esquecer o passado
É o sonho que sonhei acordado quando as palavras, os gestos e os olhares pareciam ter algum significado
É o sonho de um anjo que um dia te levará
É o sonho do que não foi e daquilo que nunca será
É o sonho de todos os corações que por ti batem
É o sonho da consciência desperta, a certeza que ao amanhecer todos os sonhos partem
É o sonho de quem não sente, de quem não ama
É o sonho de uma menina que um dia se fez luz e chama
É o sonho da matemática dos sentimentos
É o sonho que traz de volta todas as recordações, mas nenhum dos momentos
É o sonho dos olhares cerrados
É o sonho dos olhos doces que nunca deixaram de ser amados
É o sonho das palavras escritas em vão, porque as palavras serão gelo e a presença será fogo
A chama do amor deixou de brilhar no mesmo instante em que o vento da indiferença soprou mais forte...