sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Os Cowboys do Bairro


Lembram-se daqueles dias, quando éramos apenas uns miúdos travessos que brincavam na rua despreocupadamente, e a única coisa que pensávamos era vir a ser cowboys? Lembram-se daqueles jogos que fazíamos juntos no nosso bairro?

Quando comprávamos aqueles tubos brancos compridos nas lojas de electrónica e roubávamos o isqueiro aos nossos pais para queimá-los, conseguir dobrá-los, uní-los com fita-cola e fazer aquelas armas elaboradas parecidas com espingardas e pistolas com que nos combatíamos uns aos outros? Lembro-me de um amigo meu construir uma com tantos, mas tantos canos, que mais parecia uma gatling gun, daquelas que os helicópteros de guerra utilizam. "É para não ter que estar sempre a recarregar a arma. Assim coloco uma seta em cada cano e é só disparar", dizia ele. Um dia, sem querer, talvez fugindo de um perseguidor, tropeçou e caiu por cima da arma que se partiu, não restando nada mais do que dezenas de tubos brancos espalhados pela calçada.

E de destruir dezenas de revistas antigas que as nossas mães guardavam e de enrolar as páginas para fazer aquelas setas que introduzíamos no cano da nossa arma e soprá-las para que fossem disparadas à maior distância possível. Alguns de nós até as equipavam com agulhas ou colocavam cola na ponta só para que ficassem mais duras e resistentes ao impacto e não dobrassem inutilizando-as. É certo que doíam muito mais e muitas vezes o jogo acabou por amuo de uma das vítimas das "setas de ferro". Ao fim de alguns choros, queixas e jogos prematuramente interrompidos sem vencedor nem vencidos deixámos de utilizá-las.

E quando íamos para aquele prédio em construção no nosso bairro durante a hora de almoço dos trabalhadores ou à noite sem que os nossos pais soubessem, para brincar aos cowboys? Fazíamos de conta que o edifício era uma cidade-fantasma e andávamos à procura uns dos outros fingindo ser inimigos por momentos. "Quem for atingido morre e já não pode brincar mais", dizíamos nós.

E naquela noite em que, de tão entusiasmados pela brincadeira, não reparámos que não estávamos sozinhos e demos de caras com meia dúzia de tóxico-dependentes que tomavam a sua "dose diária" e fugimos apavorados, deixando armas e setas para trás, enquanto eles nos perseguiam? Nessa noite apanhamos um susto de morte que nunca havemos de esquecer. Os nossos pais nunca chegaram a saber o que se passou. Mas hoje rimo-nos vezes sem conta de cada vez que falamos desse episódio, e um dia iremos também contá-lo aos nossos filhos.

Contaremos tudo sobre os "Cowboys do Bairro" que não tinham medo de (quase) nada, da arma do Nuno que se partiu em mil pedaços durante um duelo de vida ou de morte e da seta encravada do Ricardo que, por ser demasiado larga ficou presa no cano da pistola e o levou a perder um jogo nocturno praticamente ganho. E tentaremos faze-los compreender a enorme sorte que têm por serem ainda crianças e a saudade que sentimos desses dias em que nós o fomos também...


I wake up in the morning and I raise my weary head
I got an old coat for a pillow and the earth was last night's bed
I don't know where I'm going
Only God knows where I've been
I'm a devil on the run
A six gun lover
A candle in the wind

When you're brought into this world they say you're born in sin
Well at least they gave me something I didn't have to steal or have to win
Well they tell me that I'm wanted
Yeah I'm a wanted man
I'm colt in your stable
I'm what Cain was to Abel
Mister catch me if you can

I'm going down in a blaze of glory
Take me now but know the truth
I'm going down in a blaze of glory
Lord I never drew first
But I drew first blood
I'm no one's son
Call me young gun

You ask about my consience and I offer you my soul
You ask If I'll grow to be a wise man
Well, I ask if I'll grow old
You ask me if I known love and what it's like to sing songs in the rain
Well, I've seen love come and I've seen it shot down
I've seen it die in vain

Each night I go to bed I pray the Lord my soul to keep
No I ain't looking for forgiveness, but before I'm six foot deep
Lord, I got to ask a favor and I'll hope you'll understand
'Cause I've lived life to the fullest let the boy die like a man
Staring down the bullet let me make my final stand

Shot down in a blaze of glory
Take me now but know the truth
I'm going out in a blaze of glory
Lord I never drew first
But I drew first blood
and I'm no one's son
Call me young gun
I'm a young gun

("Blaze of Glory" - Bon Jovi)

Música da nossa infância... :) Tantas cassetes gravadas que trocávamos e ouvíamos em casa uns dos outros... Bon Jovi, Prince, Bruce Springsteen, The Doors, 4 Non Blondes, Queen, Michael Jackson... Inocência...

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

tb keria ter aventuras dessas pa contarrrrrr snif :'(

a infância feminina é tão maix chata!! loL

beijinho*
(já tá ;p)

7:38 da tarde  
Blogger CLÁUDIA said...

Da infância e não só... ainda adoro essa música dos Bon Jovi!! ;))))

E, às vezes, ainda quero ser salva por um Cowboy...

Beijão grande pa ti ***
Fica bem.

6:28 da tarde  
Blogger Eu said...

Pois é. Por muito antigas que sejam as músicas que nos marcaram ficarão para sempre na nossa memória. Principalmente quando nos lembram momentos ou alguém especial...

Eu ainda ouço muitas destas músicas de vez em quando e consigo recordar situações que foram e continuam a ser muito especiais para mim.

Esta lembra-me a minha infância, os sonhos e as brincadeiras que partilhámos... Afinal, o que seria de nós sem a música ;)

Que pena a vida não ter banda sonora...

Beijos***

5:37 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home