quinta-feira, setembro 29, 2005

Songs for Eternity - I



Here comes johnny yen again with the liquor and drugs, and the flesh machine
He’s gonna do another strip tease. Hey man, where’d you get that lotion? I’ve been hurting since I’ve bought the gimmick about something called love. Yeah, something called love. Well, that’s like hypnotizing chickens.

Well, I’m just a modern guy. Of course, I’ve had it in the ear before.
I have a lust for life
Cause of a lust for life.

I’m worth a million in prizes with my torture film. Drive a gto, wear a uniform. All on a government loan. I’m worth a million in prizes. Yeah, I’m through with sleeping on the sidewalk. No more beating my brains with liquor and drugs.

Well, I’m just a modern guy. Of course, I’ve had it in my ear before. Well, I’ve a lust for life (lust for life). Cause of a lust for life (lust for life, oooo)
I got a lust for life (oooo)
Got a lust for life (oooo)

Nome: "Lust for Live"
Autor: Iggy Pop/David Bowie
Álbum: Lust for Life (1977)

Renascimento de um ícone americano em solo alemão. A atravessar um período negro, depois da separação dos Stooges, devido a problemas com cocaína, Iggy Pop reencontra a rendição (parcial) e a paz (aparente) consigo próprio em Berlim dos anos 70, o epicentro do movimento punk. Na actual capital germânica, num país dividido ideologica e fisicamente, Pop ganha uma nova força, chegando mesmo a actuar no meio das ruas berlinenses munido apenas de uma guitarra clássica e tocando por esmolas. Apenas para provar a si próprio que era capaz de o fazer. E tudo se tornou mais fácil tendo a companhia do amigo David Bowie, com os mesmos problemas artísticos e de dependência de drogas, os quais foram ultrapassados em três anos, numa espécie de exílio auto-imposto, durante o qual a produção musical se revelou profícua. Dois álbuns para Iggy (The Idiot e Lust for Life) e três para Bowie (Low, Heroes e Lodger) e diversas canções escritas em parceria, como China Girl ou Tonight, e a participação do britânico (como teclista) na digressão do primeiro. Bowie chegou mesmo a afirmar na altura: "Não recebia nada para tocar com a banda. Apenas queria o meu copo sempre cheio durante os concertos e um pacote de cigarros". Afinal, para que servem os amigos?

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terça-feira, setembro 27, 2005



This is me without you...

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domingo, setembro 25, 2005

Quando os olhares se encontram



Ele tentava acordar de um sonho amargo que o deixara náufrago num mar de dúvidas. Era jovem e idealista. Sabia bem o que queria e quando assim não era, ágil saltava por cima de todos os “ses” e “porquês”. Sentia próximo de si o brilho das estrelas. Tão próximo que muitas vezes quase perdera todos os sentidos tentando tocar-lhes apenas com a pele nua. Mas ele era forte. Tão forte que conseguia encontrar energias que desconhecia ter e manter o rumo quando isso parecia impossível. Não era perfeito. Muito longe disso. Mas acima de tudo acreditava em si. Tanto que por vezes voava tão alto que se esquecia de voltar. Era um aprendiz dos contos de fada, um romântico sem cura nem motivo. Mas recusava-se a lançar os dados no jogo da sedução. Simplesmente por não conseguir encontrar a palavra “amor” por entre as regras. E ele acreditava na palavra. Acima de tudo.

Um vez conheceu uma menina. Uma menina linda, que irradiava uma luz intensa, capaz, sem qualquer esforço, de fazer corar qualquer estrela mais afoita. E ela voava livre, com as asas feitas dos sonhos despedaçados, perdidos de mão em mão, que ela insistia em guardar num baú de memórias, como pequenos tesouros roubados um dia pelo destino matreiro. Mas ele, de tão distraído que era, não reparou na menina. Apenas lhe dirigia um “olá” seco, que de tão leve e imperceptível parecia não existir. E ela seguia o seu caminho, ainda presa a medos e dúvidas, não se importando com o desprezo do rapaz. Ela tinha o mundo nas mãos. Podia ser tudo o que quisesse. Apenas não o sabia.

Até que num dia de sol como hoje, sem querer, sem que nada o fizesse prever, os dois cruzaram o olhar. Foi tudo muito rápido. Apenas uns breves milésimos de segundo. Mas o suficiente para um raio incandescente atingir o coração desprevenido do rapaz, que não compreendia as mudanças que começaram, naquele brevíssimo instante, a operar-se dentro de si. E a menina passou a habitar o seu pensamento, sem sequer pedir licença. E ele recusava-se a desalojá-la. Não o podia fazer. Nem que quisesse. Porque ela falava-lhe de palavras simples que habitavam dentro dela. E ele imóvel escutava-a atento. Sem dizer nada ou fazer qualquer movimento. Receando que qualquer interrupção levasse a menina a querer partir.

Mas a mente do rapaz não era mais que um pântano escondido pelas brumas, areia movediça onde apenas as palavras correm soltas. Por isso a menina tentava escapar. Sentia-se descontente naquele ambiente e acusava o rapaz de a aprisionar sem ter em conta a sua vontade. E ele queria libertá-la. Não que deixá-la partir fosse o seu desejo. Mas apenas porque queria vê-la feliz, correndo pelos campos, livre como sempre fôra.

Numa noite a menina gritou. Gritou bem alto. Sentiu-se presa, encurralada, sem saída. E um enorme “não” ecoou pelos caminhos poeirentos que a rodeavam, provocando fissuras na madeira e no vidro, enquanto um beijo seco ameaçava consumi-la e um corpo fétido dominado por uma mente dormente tentava apoderar-se dela. Mas o rapaz não foi capaz de escutar o apelo surdo. Ele encontrava-se demasiado longe, mais do que gostaria. Demasiado longe para ver mais um sonho despedaçado. Porque ele amava a menina das palavras simples. Mas não foi capaz de acordá-la do pesadelo matinal. Encontrava-se perdido nas certezas que a menina insistia em não ter. Mas ele não queria certezas. Apenas a menina com todos os seus medos e dúvidas. A doce menina que dele fugia a cada gesto, a cada olhar. A menina que vivia num mundo onde ele apenas esperava a autorização para entrar.

Hoje a menina ainda vive na sua cabeça, apesar de ele o negar. Ele já não quer a menina, apesar de ainda a querer. E ela finalmente corre livre, longe de todos os corpos fétidos e mentes dormentes. Num local belo onde ele agora sabe nunca poder entrar. Mas o seu pequeno coração ainda balança quando, do lado de fora, consegue ver, por entre uma fresta minúscula, a menina sorrir e dançar. No entanto, as palavras continuam a não deixar a sua boca. Porque o medo de a aprisionar é maior que o amor que ele ainda sente por ela...

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quarta-feira, setembro 21, 2005

Além



Se me queres olha para o céu
Sou aquela estrela pequenina que brilha ao lado da lua
Se não me queres não percas tempo a tentar encontrar-me
Não conseguirias de qualquer forma, nem eu gastaria o meu brilho para te mostrar quem sou

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domingo, setembro 18, 2005

Sombra



A sombra cai sobre o sorriso da lua, tornando-a negra e cega. É apenas a chuva antes da tempestade. Então porque apontam todos os dedos para mim? Parece-me uma boa ideia questionar a montanha. Não contes a Deus os teus planos. Ele não os entenderia. Dançando com os anjos à luz das velas toco o amanhã. Abrindo caminho, dançando através do tempo. Porque não posso escutar as tuas conversas com Deus? É meio caminho para a melancolia.

Afasto os olhos do ecrã, enquanto o passado te coloca de novo nos braços de alguém. Claro que também tenho medos e dúvidas. Por vezes. Porque todos esqueceram como sorrir através dos cromossomas do espaço e do tempo. Rapazes surgem do fogo da noite. É a natureza dos sentidos onde a carne encontra o mundo dos espíritos. Enche o copo com essas almas sonolentas. Alguma coisa vai acontecer. Esta é a tua sombra contorcendo-se na minha parede. Deverias viver a minha vida de joelhos. Mentindo e bebendo as sombras do pôr do sol. É o animal dentro de mim. É a mistura do nosso sangue, dos nossos desejos, das nossas memórias. A dor arde como a neve e eu não conheço todos os extremos do meu sexo.

Olha para a lama que lançaste a meus pés. E eu que não trago sapatos... Não há inferno nem vergonha. Deveria ter pensado nisso antes. Num dia melhor vou agarrar-te pelas mãos e fazer-te atravessar as portas. Mas deixa-me em paz agora. Tenho um sino para dobrar. Observo a lua até que ela se torne líquida. Para que eu a possa trazer sempre dentro de mim. Tirem-me deste sonho! Quero sair daqui! Detesto este lugar! Prefiro estar dentro de ti. Afasta o teu cabelo dos meus olhos para que eu possa ver tudo o que queres esconder de mim.

Oh não! Não outro sorriso! Não outra palavra saída da boca de um homem sem nome! Estiveste sempre aí? Porque não disseste nada? Para onde foram todas as flores? O som do solo? A promessa em tempo de guerra? Quero desfalecer antes de vir ao acaso. Sou o futuro, o amanhã e o fim. O homem-anjo que não consegue sangrar. Ontem não havia amanhã. Mas amanhã o hoje chegará enfim.

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quarta-feira, setembro 14, 2005

Ternura



Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afecto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

[Hoje é um bom dia para te dizer "adeus"]

(Vinícius de Moraes)

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segunda-feira, setembro 12, 2005

Dúvida no olhar



As cortinas fecham-se antes do fim da peça. A plateia olha incrédula as luzes que se apagam, tão depressa como a oração do pecador. Estarão os actores cansados de esperar? Ou terão os aplausos tardado em chegar? Nenhuma das hipóteses parece suficiente para que os olhos se fechassem. E nem os palhaços sabem como extinguir a dor.

Não há sorrisos eternos, ou olhares tão brilhantes que alcancem a sabedoria num copo vazio. Ele queria esperar. Ele tentou esperar. Mas foi arrastado para o lado de fora pelos corações fechados e por um perfume de ocasião. Sem rasto, sem perdão. Perdão que ele nunca pediu. Porque as dúvidas deixaram marcas profundas. E não há nada pior que uma alma perdida sem propósito.

Deveria parar a erosão? Deveria deixar de envelhecer? Não me obrigues a viver a tua depressão. Não agora que comecei a aprender a viver. Não me obrigues a viver a tua vida. Não agora que esqueci como sofrer. “Tu sabes quem eu sou”, disse-me um anjo um dia. Tentei lembrar-me daquela face dourada, mas em vão. “Sim eu sei”, mas no fundo não sabia. Daqui a um século saberei.

Dá-me mais um motivo para te ver através dos olhos de um cego. Só mais uma razão para escutar o teu silêncio. Pára de olhar para mim! Não consigo mentir com esta corda ao pescoço. Tenho vontade de voar através da noite escura. Mas esqueci-me de roubar as tuas asas. Que azar! Agora só ouço as tuas palavras surdas.

Consegues dizer quando um homem não é um homem? Conseguirás sorrir quando os nossos medos passarem num ecrã de prata? Finalmente conheci a felicidade. Esteve comigo o tempo todo. Não, não é um jogo. Então porque insistes em lançar os dados? Não olhes tão fundo nos meus olhos. Não há lá nada que queiras encontrar. Só aquilo que eu sou. E eu já não tenho muito para dar.


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quinta-feira, setembro 08, 2005

Há uma rapariga deitada no meu quarto

Há uma rapariga deitada no meu quarto
Disse-me que não se demorava e eu deixei-a entrar por momentos
Mas agora recusa-se a ir embora
“Não tomarei muito do teu tempo. Apenas o necessário para conhecer o cheiro, o toque, o sabor e o rumo que segue a tua vida”, disse ela
E arrancou os botões de todas as minhas camisas, apenas para poder sentir a minha pele
E vasculhou as minhas gavetas em busca do amor e de um cigarro
Estavam vazias, mas ela pareceu não se importar
Diante dos meus olhos fez correr um rio entre as nossas bocas
Na minha cabeça plantou sonhos de algodão
E no tapete as roupas usadas que deixaram de servir
Agora que as unhas estão cravadas nas minhas costas não sabe como atravessar as ruas
“Perdi o rumo, a bússola e todos os motivos para o fazer”, disse ela
Lá fora apenas os lobos famintos e o fumo de um charro esperam por ela
As barbas mal cortadas e os olhares rubros da luxúria
Uma cadeira de baloiço quebrada e uns óculos escuros para fingir que não os vê
Um riff de uma guitarra desafinada e o nariz empinado para despistar as dúvidas
“Não é um futuro muito bonito, pois não...?”, questionou
...
“Deixa-me repousar durante mais uns minutos no teu peito. Só até deixar de precisar de ti”
...
“Não te assustes, mas já passaram vários dias...”, respondi